sábado, 21 de julho de 2007

CULTO AO ESTRANGEIRISMO

Celebridades instantâneas, bandas que nascem e no dia seguinte vendem milhões de discos, artistas parasitas que vivem a sombra de outros mais famosos. Afinal, quais critérios determinam a validade artística e cultural no Brasil?
É comum fazer uso do termo “cultura” quando se discute grau de instrução ou (pasmem) conhecimentos acadêmicos. O conceito de cultura é empregado de forma errônea e quase sempre tendenciosa. Por que Fulano de Tal, lá dos Cafundós do Brejo, teria cultura? Ou melhor, para que teria? A cultura, entendida por poucos, pode ser encontrada em um conjunto de costumes comum a um povo. Assim, seria possível afirmar que os brasileiros desconsideram sua cultura. Esse é um país de costumes ricos e extremamente particulares, construtores de uma identidade própria. A unidade desse povo, então, é desqualificada quando os costumes de Fulano de Tal, brasileiro, dos Cafundós do Brejo, não são levados em conta. A percepção artística nesse processo fica gravemente prejudicada, visto que não possuir cultura impossiblitará a produção de arte. O descrédito leva a uma supervalorização da cultura do outro, a exemplo do movimento hip hop que toma as grandes cidades brasileiras onde não há uma unidade.
Outro aspecto digno de análise é o fato de artistas de olhos azuis com aparência germânica terem maior êxito no mercado brasileiro. Quem não tem, logo consegue uma lente de contato e, aí sim, pode produzir arte. Parece brincadeira, mas acontece, e é mais comum do que as pessoas possam perceber. Dessa forma, a arte se torna algo distante, pertencente a uma pequena parcela onde se encontram também os letrados. Esses costumam viajar pelo mundo e voltam contaminados da tal cultura, supostamente superior, daí o valor dado a quem já pôs os pés fora do país.
O Fulano de Tal produz peças de cerâmica e as pinta. Ele faz colares de sementes e conta estórias com um incrível poder de construir o lúdico. Espera aí, isso é arte, sim, arte popular genuinamente brasileira. No entanto, todos os parentes e amigos do Fulano podem produzir essa arte, o que significa que sua produção terá pouco valor econômico. Acontece assim com Samba de Roda, esquecido pelos meios de comunicação de massa, supostamente responsáveis por exibir a cultura. Para os brasileiros basta bater palmas e tá pronto, é um samba. Agora basta a roda, ta bonito, é um samba de roda. Pode gostar, é lindo de ver e ouvir. Só que “não vende”. E se “não vende” não serve para ser exibido, portanto, será desconhecido, logo, morrerá.
É assim que funcionam os valores artísticos e culturais de uma sociedade capitalista, onde os produtores de informação visam tão somente o lucro. A superficialidade e o sucesso instantâneo, de curta duração, é a prioridade. Os artistas devem ser deuses reclusos em seu Olimpo, distantes da massa incapaz. Para a elite que domina a política e a mídia brasileira é imprescindível reafirmar a idéia de incapacidade da população. Assim, fica fácil tomá-la como refém, chantageado-a dia após dia, a fim de fazer o que lhe interessa.